Impressoras 3D criam próteses infantis inspiradas em super-heróis

por / sexta-feira, 24 outubro 2014 / Publicado emMatérias
protese infantil

Voluntários da ONG e-Nable produzem membros artificiais que imitam as mãos de heróis como Homem de ferro e Wolverine

A deficiência física de uma mão pode representar um trauma e um grande obstáculo para a vida de adultos e, principalmente, crianças. No entanto, iniciativas unindo avançadas, porém acessíveis, tecnologias de impressão 3D, muita solidariedade e talentosos profissionais criativos vêm ajudando jovens a lidar com esse desafio de uma forma mais divertida. Afinal, na necessidade de fazer uso de uma prótese, que criança não gostaria que ela lembrasse as principais características do seu super-herói favorito?

 

Próteses infantis

Prótese inspirada no Homem de ferro: funcionalidade, luzes e articulações

Foi com essa ideia que o animador e modelador 3D americano Pat Starace desenvolveu e produziu, por conta própria, uma prótese infantil de mão que impressiona por seu visual e recursos inspirados na luva do popular personagem Homem de ferro, eternizado no cinema pelo ator Robert Downey Jr.

 

Por anos desenvolvi trabalhos voluntários junto a crianças com os meus personagens animatrônicos, mas andava afastado dessas atividades. Recentemente, decidi que queria voltar a fazer esse tipo de diferença no mundo. Foi aí que tive a ideia de desenvolver uma prótese de mão que poderia ser não só funcional, mas também divertida — afirmou Starace por e-mail. — Minha meta principal é ajudar a uma criança que esteja enfrentando os desafios da vida com a sua deficiência, e fazer dela a criança mais legal da sua escola.

 

Starace passou um mês modelando todas as partes da prótese em softwares de animação e recriando-as com impressoras 3D. Sua atenção aos detalhes não se restringiu ao visual da peça de plástico, repleta de luzes: quando o usuário da prótese inclina o seu pulso para baixo, os cinco dedos da peça se fecham; quando o pulso é forçado para cima, eles se abrem. Além disso, o objeto é dotado de espaços para guardar acessórios e sensores.

 

Com a luva finalizada, o modelador pretende presenteá-la a uma criança, escolhida a partir de inscrições em seu site. Depois disso, sua meta é aprimorar o design da prótese, tornando-a mais fácil de ser montada, e disponibilizar o seu projeto gratuitamente na internet.

 

O modelador não é o único que vem fazendo uso das impressoras 3D para aliviar a vida de crianças com deficiências físicas. Com mais de 1.500 membros, a iniciativa E-Nable — da qual o modelador faz parte — reúne profissionais de áreas variadas com o objetivo de desenvolver e disponibilizar gratuitamente diferentes modelos de próteses infantis, que podem ser reproduzidas e montadas a partir de impressoras 3D, a um baixo custo.

No mês passado, por exemplo, fez sucesso na internet a imagem de uma prótese de mão infantil desenvolvida por Aaron Brown, voluntário no projeto, que imitava o visual das mãos do herói Wolverine — inclusive com garras falsas de plástico. Criadas a partir de uma impressora 3D, modelos da peça foram doados a crianças do hospital Grand Rapids, em Michigan.

Chefe do Serviço de Ortopedia do Hospital São Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro, Marco Antônio Afonso afirma que aplicação de elementos lúdicos a próteses infantis traz um grande benefício psicológico e social para as crianças que possuem deficiências físicas.

— Iniciativas como essa são fantásticas porque ajudam a tornar as próteses mais amigáveis aos olhos das crianças, melhorando a aceitação da sua condição. Ao invés de se sentirem envergonhadas, elas passam a ter orgulho das próteses — explica Afonso. — Além disso, as outras crianças do convívio do paciente tendem a reagir melhor à sua condição, beneficiando a sua autoestima e desenvoltura social.

PRÓTESES MAIS BARATAS E PRÁTICAS

De acordo com Maria Elizete Kunkel, professora da Universidade Federal de São Paulo na área de engenharia biomédica, a tecnologia de impressão 3D vem representando uma revolução no segmento de próteses, possibilitando a produção de peças mais leves, práticas e acessíveis.

 

— É uma técnica que vem se popularizado a partir da disseminação das impressoras 3D de baixo custo. Com elas, é possível criar próteses de plástico que custam cerca de dez vezes menos que as tradicionais — explica Kunkel, que coordena um projeto de criação de próteses com impressoras 3D no Hospital das Clínicas de São Paulo. — É um fenômeno que ainda engatinha no Brasil, mas que não demorará a se difundir por aqui.

Em outra iniciativa da E-Nable, também divulgada no mês passado, Hayley Fraser, de cinco anos, tornou-se a primeira criança da Inglaterra a receber uma prótese criada a partir de uma impressora 3D — a jovem nasceu sem os dedos da mão direita.

— O sonho dela se tornou realidade — afirmou o pai da jovem ao “Independent”, se referindo à nova mão rosa de plástico da filha. — São as pequenas coisas. Agora ela consegue segurar o seu ursinho, descascar uma banana e até pintar as suas unhas. (A prótese) fez uma grande diferença para ela.

 

 

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