Nova técnica chega como esperança para os joelhos dos corredores de rua

por / segunda-feira, 07 agosto 2017 / Publicado emJoelho
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Procedimento recentemente aprovado pela Anvisa no Brasil visa o preenchimento da área de edema ósseo abaixo da lesão meniscal, e o paciente recebe alta no mesmo dia. 

 Os meniscos são estruturas essenciais para a biomecânica do joelho, agindo como lubrificadores, estabilizadores, amortecedores e distribuidores de carga dentro da articulação. Dentre suas funções, a de amortecimento é considerada essencial. Para que ocorra, suas fibras compostas de colagéno dissipam as forças de compressão na articulação, reduzindo assim a força direta sobre a cartilagem articular, que cobre as superfícies articulares tibio-femorais.

Em traumatologia do esporte, dividimos as lesões meniscais em dois sub-grupos: as traumáticas agudas e as crônicas degenerativas. As primeiras ocorrem em atletas jovens e são, basicamente causadas por entorses e contusões do joelho. Um exemplo clássico é o lutador de jiu-jítsu que joga muita força no joelho em flexão máxima durante a passagem de guarda. O segundo grupo engloba esportistas com idade acima dos 40 anos. Aqui, o menisco mais envelhecido sofre os microtraumas de reptição e rompe-se ou torna-se extruso (pula fora do local de origem).

As queixas de pessoas que sofreram lesão meniscal incluem dor bem localizada com períodos de alívio e agravo a determinados movimentos e ao se praticar esportes como corrida, tênis, futebol ou em movimentos triviais como agachar e cruzar as pernas. Em algumas pessoas, devido à reação inflamatória em torno da lesão (peri-meniscite), pode haver inchaço (água no joelho) e bloqueio (travamento).

Ao contrário da lesão traumática aguda, cujo tratamento é unanimemente cirúrgico e com retorno precoce ao esporte, o tratamento da lesão degenerativa enfrenta certa polêmica, principalmente entre mulheres corredoras. Embora o acompanhamento clínico, incluindo fisioterapia associada ou infiltrações do joelho com ácido hialurônico e corticóide possa aliviar os sintomas, pode não recolocar o indivíduo no esporte em níveis pré-lesionais. Neste grupo de pacientes, a meniscectomia (retirada de parte a todo o menisco) está ligada ao risco de uma complicação pós-operatória denominada “fratura por insuficiência subcondral”, na qual o osso logo abaixo do menisco retirado torna-se sobrecarregado, sofre fraturas de microtrabéculas ósseas e acaba se edemaciando, causando muita dor.

Felizmente, uma técnica cirúrgica relativamente nova recentemente introduzida no rol de tratamento de lesões cartilaginosas nos Estados Unidos, há cinco anos, denominada subcondroplastia foi desenvolvida visando o preenchimento da área de edema ósseo abaixo da lesão meniscal. A técnica consiste na injeção de um enxerto ósseo sintético de fosfato de cálcio (CaP) na área lesionada (porção subcondral do osso). Uma vez infundido, uma reação endotérmica cristaliza o CaP, aumentando o suporte ósseo com alívio quase que imediato da dor. O procedimento é feito em regime de hospital, no qual o paciente recebe alta no mesmo dia. O uso de muletas restringe-se a dois a três dias pós-operatório. Nas semanas seguintes ao procedimento, ocorre substituição do enxerto por osso esponjoso nativo. No Brasil, o procedimento teve recente aprovação da Anvisa e, lentamente vem sendo introduzida no meio científico dos colegas ortopedistas.

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Inserção do cateter no local da lesão e infusão do enxerto (Foto: Infografia )

Apesar de ser um procedimento relativamente novo e não haver estudos com evidência suficiente da aplicação em atletas, muitos autores americanos já consideram o procedimento como primeira escolha no tratamento de lesões cartilaginosas e de rupturas meniscais degenerativas dos “esportistas quarentões”. Estudos futuros nos trarão soluções para estas e outras lesões degenerativas da população mundial que cada vez mais envelhece e torna-se adepta aos esportes.

Referências bibliográficas:
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